Eu gostaria que o Bolsonaro morresse
- Augusto Casoni
- 4 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Eu gostaria que o Bolsonaro morresse. Talvez escrever sobre políticos deixe os textos muito anacrônicos, mas ainda não, ainda estamos em 2021. Eu comprei um livro de crônicas do Nelson Rodrigues em que ele fala sobre vários (acredito, eu, que sejam) políticos da época. Fiquei muito perdido. Mas acho que as pessoas lembrarão do Bolsonaro, infelizmente. Eu gostaria muito que ele morresse. Hoje. Afogado, esfaqueado, atropelado, alvejado, de infarto, de derrame, de covid. Eu gostaria que o Bolsonaro morresse.
É claro que eu gostaria que a pandemia já tivesse acabado. Eu gostaria de poder ir em bares sem peso na consciência. Eu gostaria que todo mundo se abraçasse bem mais, não só pelo fim da pandemia. Eu gostaria que as pessoas beijassem mais. Talvez eu esteja falando sobre mim. Eu gostaria de beijar mais. Eu gostaria de saber escrever em terceira pessoa. Estou cansado de centralizar quase todas as produções textuais em mim ou em minhas perspectivas, mas é o que consigo fazer. Eu, sinceramente, não acho ruim, mas talvez gere pouca identificação. Eu gostaria de saber escrever contos. Acho sensacionais. Mas gosto mais de crônicas. Acho que a crônica quase necessariamente pede uma perspectiva pessoal, né? Não sei. Defina crônica, leitor!
Eu gostaria que os domingos acabassem as 18 horas. Esse texto está sendo escrito em um domingo, após as 18 horas. Talvez esse texto nunca existisse se as coisas fossem como eu gostaria, mas talvez eu estaria disposto a pagar esse preço. Talvez não.
Eu gostaria de ter visto mais jogos do meu time no estádio. Até hoje só vi um. Eu gostaria de entender mais sobre futebol, taticamente. Eu gostaria que o brasileiro desse mais importância ao futebol. Mais? Sim, mais. Eu gostaria que o futebol fosse um ato político. Acho que é, mas nem sempre; quase nunca – uma amiga me convenceu disso recentemente. Eu gostaria que, sempre, o futebol fosse um ato político. Eu gostaria que mosquitos não existissem. Engraçado... eu não gostaria de ser melhor no futebol. Aos que não sabem, sou péssimo. Acho que é algo que simplesmente prefiro assistir. Eu gostaria que o Bolsonaro morresse.
Eu gostaria de saber apreciar mais Shakespeare. Eu gostaria de saber apreciar mais a literatura num geral. Estou tentando! Eu juro! Eu gostaria de não ser tão duro comigo mesmo, mas honestamente, isso não me preocupa tanto. Talvez ao invés de não ser tão duro comigo eu gostaria mesmo é de atender todas as minhas expectativas. Mas qual seria a graça? Eu gostaria que todos fossem ao psicólogo. É sério, eu gostaria. Eu acho que 98% dos problemas do mundo podem ser resolvidos com bons anos de análise.
Eu gostaria que os sábados não acabassem. Eu gostaria de não ter que me preocupar com a minha saúde. Eu gostaria de fumar um charuto cubano, numa noite de sábado, sem ter que me preocupar com a ressaca do dia seguinte ou algo assim. Claro, acompanhado. Eu gostaria que fizesse menos frio e mais calor. Eu moro num lugar que faz pouco frio, mas gostaria que fizesse menos. Mas um charuto e uma companhia numa noite de frio não são ruins. Eu disse que gostaria que fizesse menos frio, não que não fizesse.
Eu gostaria muito que o Bolsonaro morresse. Eu gostaria de entender mais sobre política, sobre América Latina. Eu gostaria de viajar por toda a América Latina. Eu gostaria que isso não soasse extremamente como um esquerdismo piegas, mas me resume muito bem. Eu gostaria que as pessoas dessem mais importância às coisas piegas. Mas talvez não tanto. Talvez eu só gostaria que “não ver sentido na vida” e “querer dedicar a vida pra demostrar amor e carinho, aos outros e a si mesmo”, não fossem ideias vistas como opostas. São? Eu gostaria que não.
Eu gostaria de recitar mais monólogos de Shakespeare. Eu recitei um para a minha vó. Ela não entendeu nada. Foi tão maravilhoso. Eu gostaria de ver a beleza nas coisas mais vezes. Ou gostaria de perceber que estou vendo a beleza das coisas no momento em que elas acontecem, que não fossem uma memória nostálgica escrita em um papel. Mas eu acho que percebo. A gente percebe sem se dar conta. Percebe sem perceber.
Eu gostaria de ter um final pra esse texto, ou até mesmo um meio. O começo eu tinha: “Eu gostaria que o Bolsonaro morresse”. É um pensamento que sonda minha mente constantemente ultimamente. Acho chamativo também. É um bom começo. Eu gostaria de ver a reação das pessoas que começaram a ler esse texto achando que ele seria político. Eu acho que escrever sobre políticos deixa os textos muito anacrônicos.
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