Deus está nas pequenas coisas
- Augusto Casoni
- 8 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
“Ah, mas essas coisas são exatamente assim mesmo, é sempre assim”. Como conseguimos dormir a noite com o fenômeno que essa frase traduz? Essa abominável e redundante frase, com uma tripla repetição. Não é assombroso que, mesmo sendo mínimas partículas de existência neste gigantesco universo infinito, nós sejamos atormentamos pelas nossas próprias criações?
Como é possível que um chuveiro elétrico sempre queime no frio? Eu desconheço um único caso de que tenha queimado no calor. Se não sempre, é muito provável que o faça em algum momento – e será no frio. Como é possível que este mesmo chuveiro, em tardes quentes, seja mais quente que a chapa do restaurante que faz aquele bife que parece sola de chinelo? E não adianta desligar a resistência, não! Ele está quente, e ele nunca esteve tão quente! E, naquela manhã gelada, de 5ºC, em que você precisa tomar banho de manhã, ele não vai reestabelecer essa temperatura, ele não vai chegar nem perto.
Como é possível que a antena da televisão deixe de cumprir sua função apenas e tão somente em relação ao canal que você quer assistir? Você nem assiste televisão! Simplesmente tá passando o jogo do seu time, e é só ali que tá passando. E você deixou a tv ligada em vários outros momentos quando não estava prestando atenção, e ela funcionava perfeitamente! Mas, não! Naquele momento não! O sinal oscilou justo naquele momento. Como o chuveiro, que teve um mal contato devido à variação de temperatura, o que causou um mal funcionamento da resistência, naquele maldito momento o satélite virou 0,35 graus para baixo, o que prejudicou o seu sinal. Ou seja lá qual for o acontecimento que prejudique o funcionamento de um sinal, em um único canal de televisão.
Como é possível que o gás acabe justamente quando você resolve fazer arroz às 21 horas de uma terça-feira? Você nunca achou que fosse possível ter tanto gás em um botijão! Estava começando a achar nem tão caro os mais de 110 reais que pagou, afinal esse gás não acaba nunca... Mas chegou o momento! Justo agora, justo hoje, às 21 horas de uma terça-feira, quando o arroz já está no fogo há 6 minutos, quando você não tem outra opção de janta e não tinha começado a fritar o ovo ainda, o gás acabou. “Ah, mas essas coisas são exatamente assim mesmo, é sempre assim”.
Quem és tu, ó entidade divina, ser do microcosmo, viajante temporal, visitante de outra dimensão, ou apenas grandissíssimo filho da puta? Quem és tu que nos observa com tamanha atenção, que nos conhece com tamanha precisão, que sabe exatamente onde, quando, em que momento, e por meio de que objeto abalar os pilares de nossa frágil pólis mental, a qual ousamos chamar de sanidade?
É você Senhor? Zeus? Buda? Ganesha? Osíris? Oxum? E por que tamanho espírito de porco? Vai caçar o que fazer.
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