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Besteirinha de meio de semana - Oblíquos, dissimulados e apertados por máscaras

  • Foto do escritor: Augusto Casoni
    Augusto Casoni
  • 5 de ago. de 2022
  • 2 min de leitura

Olha só hein, as novidades não param! Vou tentar propor também uma escritinha de meio de semana aqui. Talvez não cheguem a ser textos, só uma bobeirinha de momento… Veremos.


Como letrista, em uma das primeiras aulas fui perguntado, assim como foram outros colegas, sobre qual era minha obra literária favorita. Como leitor fajutíssimo que sou, só fui capaz de citar Dom Casmurro. Machado continua sendo meu autor favorito - talvez porque eu continue sendo um leitor muito fajuto - mas explico o porquê da escolha dessa obra tão tradicional do cânone para ser citada como minha favorita.


Acho que sempre me identifiquei com Bentinho. O que pode parecer terrível num primeiro momento, mas cuja justificativa encontro em suas características mais inofensivas, não no ciúme exacerbado, no excesso de autopiedade e nem na psicopatia de desejo de morte do próprio filho.


Bentinho era um apaixonado por olhares. Não à toa, a melhor combinação de palavras da história da língua portuguesa está na obra para descrever o olhar de uma das mulheres mais bonitas da história da literatura de língua portuguesa: “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”.


Acho que sempre fui perdidamente apaixonado em Capitu, pelo menos desde que soube da existência dessa frase. Acho que a explicação está na forma como absorvi olhares em toda minha vida.


Cada dia mais, chego à conclusão que nada me atrai mais que um olhar. Eles dizem muito. Muitas vezes dizem mais do que a voz, e às vezes dizem tudo. São uma das inúmeras complicações para que os linguistas possam, finalmente, responder à pergunta do que é a linguagem. Até porque, me parecem uma comunicação autônoma e completa por si só.


Não falam só as pupilas. A testa franze, as bochechas apertam. A sobrancelha arqueia.


Mas o que fala muito mais que um olhar é a falta dele. Algumas faltas demoram pra parar de fazer falta.


Na primeira semana de aula desse semestre, por conta da pandemia de COVID e da rigidez de protocolo da UFRGS, um professor fez um comentário bem humorado sobre o uso de máscaras e nossa relação com as feições. Engraçado como agora, devido a este equipamento, sinto que os olhares falam muito mais. Estão intensificados, massivos, atraentes. Reparo cada vez mais.


Divago, voltemos ao comentário. Era algo como “agora precisamos nos apaixonar, não mais pelos sorrisos, mas só pelos olhares”.


Eu já estou nessa há muito tempo, professor. Sejam bem-vindos.


 
 
 

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